Há uma leve brisa a favor de Jair Bolsonaro Há uma leve brisa a favor de Jair Bolsonaro
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Há uma leve brisa a favor de Jair Bolsonaro

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Mario Sabino
6 minutos de leitura 18.03.2022 16:25 comentários
Opinião

Há uma leve brisa a favor de Jair Bolsonaro

Com a abertura da janela partidária e a consequente migração de bolsonaristas para a legenda pela qual o presidente da República se lançará à reeleição, o PL de Valdemar Costa Neto se tornou o partido com a maior bancada na Câmara dos Deputados, com mais de 60 deputados. Na cerimônia de filiação, o cacique disse: "Eu fico pensando da sorte que nós tivemos de poder recebê-lo no nosso partido. Eu nunca imaginei...

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Mario Sabino
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Há uma leve brisa a favor de Jair Bolsonaro
Foto: Adriano Machado/Crusoé

Com a abertura da janela partidária e a consequente migração de bolsonaristas para a legenda pela qual o presidente da República se lançará à reeleição, o PL de Valdemar Costa Neto se tornou o partido com a maior bancada na Câmara dos Deputados, com mais de 60 deputados. Na cerimônia de filiação, o cacique disse:

“Eu fico pensando da sorte que nós tivemos de poder recebê-lo no nosso partido. Eu nunca imaginei. Eu passei 30 anos correndo atrás de deputado para o meu partido crescer. Nunca pensei que nós iríamos chegar aonde nós estamos chegando.”

E ele acrescentou:

“O eleitor do Bolsonaro (foto) é fiel e, aconteça o que acontecer, o resultado vai vir. Por isso, nós temos que ser fiéis ao Bolsonaro, fazer tudo que o que ele pede, tudo que ele precisa. Estamos enfrentando problemas em alguns estados e vamos enfrentar em todos que precisar para podermos retribuir o que ele fez para nós.”

Repare bem no verbo utilizado por Valdemar Costa Neto, condenado à prisão no esquema do mensalão: “retribuir”. Ele resume o que é a política no Brasil — uma troca de favores entre chefes de partidos e seus deputados e senadores, na qual o interesse público é o que menos interessa. Como comentei no programa Papo Antagonista, Valdemar Costa Neto não tem um partido, tem um bolão — e não só ele, claro. Mas isso você já estão tão careca de saber quanto eu, o careca socialista fabiano, como dizem por aí.

Valdemar Costa Neto agora precisa retribuir o aumento de bancada ao presidente da República, convencendo as suas bases nos estados de que Jair Bolsonaro tem chance de ser reeleito. Nas pesquisas, o índice de rejeição ao nome do presidente continua gigantesco, em torno de 60%, Lula continua sendo o favorito absoluto, mas há uma ligeira brisa, já sentida pelos profissionais da segunda profissão mais antiga do mundo, que mostra que essa porcentagem pode encolher de maneira significativa. A farta distribuição de dinheiro público, via auxílios e emendas, estaria tornando os eleitores brasileiros menos refratários à ideia de manter o sujeito no Palácio do Planalto, na observação de vários políticos, incluindo petistas que estavam cantando vitória antes do tempo. O desemprego também vem diminuindo, embora o salário médio seja o mais baixo já registrado. Não importa: para quem não tinha salário nenhum, qualquer salário está ótimo. A pandemia é um presente que todo mundo, inclusive os opositores de Jair Bolsonaro, resolveu relegar ao passado — o que também ajuda a jogar no esquecimento a sociopatia do presidente da República durante o auge da crise sanitária. E vamos ser sinceros: a campanha permanente de certa imprensa contra Jair Bolsonaro pode causar efeito reverso, visto que essa certa imprensa é tão amada pelos brasileiros como o STF.

O otimismo bolsonarista neste momento é tamanho que, no Palácio do Planalto, não existe mais a conversa de que Jair Bolsonaro pode desistir da reeleição. Esse otimismo foi expresso pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que se candidatará ao governo de São Paulo, na entrevista que deu à Crusoé, na semana passada (aberto para não assinantes). Descontado o lado propagandístico de um interessado direto na reeleição de Jair Bolsonaro, o ministro sintetizou o estado de espírito dos correligionários de Jair Bolsonaro — tanto os ideológicos, como os de ocasião.

Perguntado sobre a diferença nas pesquisas entre Lula, que as lidera, e o presidente da República, Tarcísio de Freitas afirmou:

“O que estamos vendo é uma diminuição bastante acentuada e rápida dessa diferença, por uma série de fatores. Você tem a percepção de que a crise da Covid-19 está se exaurindo. Houve a entrada do Auxílio Brasil. Está havendo a entrega de resultados (pelo governo). Muitas previsões apocalípticas feitas no campo econômico acabaram desfeitas. No final das contas, o resultado fiscal surpreendeu. Se você pegar os primeiros resultados de indústria, comércio e serviços, verá que, provavelmente, todo mundo vai revisar previsões para cima. E isso, de certa forma, encurta a diferença entre Lula e Bolsonaro. Qualquer pessoa que faz antítese ao atual mandatário no momento de crise sai com vantagem, porque a associação é imediata. Lula estava jogando parado. Tudo o que ele faz é em ambiente controlado. Conta-se com a percepção das pessoas de que a vida piorou com as crises. Mas não é bem assim.”

Indagado se Lula não pode crescer ainda mais quando passar a cumprir compromissos eleitorais, o ministro disse acreditar que Lula sofrerá um desgaste (e muitos petistas também acham isso): “O discurso está ruim. Porque é só perguntar para as pessoas algumas coisas. Vem cá, você realmente quer o controle da mídia? Quer a revisão ou implosão do teto de gastos? Quer a intervenção nos preços da Petrobras? Quer a reversão da desestatização da Eletrobras, do Porto de Santos? Quer o fim da autonomia do Banco Central? É preciso mostrar para onde tudo isso pode nos levar”.

Quanto à terceira via, a constatação do ministro está difícil de ser contestada. Ele acredita que um nome alternativo não tem chance, porque é “como no filme ‘O Auto da Compadecida’: ‘Não sei, só sei que é assim’. (…) O Lula tem uma base fiel que vai beirar os 30%, e tem o Bolsonaro que tem uma base fiel que vai beirar os 30%. Acabou o espaço para a terceira via. É matemática. O que esses dois caras têm? Carisma e autenticidade. São dois caras que olham no olho do povo e falam a língua do povo. Os outros? Esquece. Não conseguem. O segundo turno será entre Lula e Bolsonaro”.

Ainda é possível reverter esse quadro e a terceira via emplacar um candidato? Sim, tudo é possível. Tudo é tão possível na política, que até Jair Bolsonaro tem chance de vencer a eleição em outubro, se Lula não levar no primeiro. O antipetismo poderá vencer o antibolsonarismo. Ninguém dava nada pelo atual inquilino do Palácio do Planalto, apenas o seu gado, mas há uma leve brisa a seu favor no ar, que já afaga o pescoço de Valdemar Costa Neto e lhe causa arrepios de prazer.

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Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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