Vingança, não, por favor! Vingança, não, por favor!
O Antagonista

Vingança, não, por favor!

avatar
José Nêumanne Pinto
5 minutos de leitura 25.12.2022 15:00 comentários
Opinião

Vingança, não, por favor!

A cultura brasileira glorifica duas negações à vingança que geraram grandes obras no teatro e na literatura pelo abandono do velho hábito rural da legenda do talião bíblico do olho por olho, dente por dente. Quando João Suassuna foi assassinado no Rio por um pistoleiro...

avatar
José Nêumanne Pinto
5 minutos de leitura 25.12.2022 15:00 comentários 0
Vingança, não, por favor!
Foto: Adriano Machado/ O Antagonista

A cultura brasileira glorifica duas negações à vingança que geraram grandes obras no teatro e na literatura pelo abandono do velho hábito rural da legenda do talião bíblico do olho por olho, dente por dente. Quando João Suassuna foi assassinado no Rio por um pistoleiro profissional para punir com a morte o chefe político acusado de ter sido o mandante da execução de João Pessoa, em Recife, a matriarca Ritinha Vilar reuniu os filhos e os fez jurarem que jamais vingariam o pai. Desde os três anos, Ariano seguiu a lei dos irmãos mais velhos e se dedicou a honrar a memória paterna em sua vasta obra teatral e romanesca.

Um ano mais novo do que Ariano e nascido no longínquo sertão do mesmo Estado da Paraíba, Francisco Pereira da Nóbrega assumiu compromisso similar com a mãe, Jardelina, e interrompeu o derramamento mútuo de sangue. Assim, rompeu a corrente da vendeta do pai, o cangaceiro Chico Pereira, assassinado pela polícia de seu Estado. Padre, filósofo, membro da Academia Paraibana de Letras, escreveu o primoroso Vingança, não! sobre a saga familiar. A crônica policial é pródiga de exemplos em que a violência da tradição tem sido substituída pelo convívio pacífico de antigos inimigos mortais.

Na vida pública, o talião também pode ser trocado por reconciliação de ex-desafetos. A Paraíba, palco dos fatos narrados, tem bons exemplos disso: em 1950, José Américo de Almeida saiu da União Democrática Nacional (UDN) e foi para o Partido Liberal (PL) para derrotar na eleição para governador o chefão de sua ex-legenda. Teve, então, o apoio do arquiadversário Partido Social Democrático (PSD). Em 1986, os inimigos João Agripino Filho e Ernani Sátiro se uniram para apoiar a indicação de Antônio Mariz, que perdeu a eleição indireta para o indicado de Zé Américo, Tarcísio Burity. Destino inglório também teve a Frente Ampla formada por Juscelino Kubistchek e João Goulart com o ex-rival Carlos Lacerda, em 1966. A iniciativa foi abortada pelos antigos aliados da ditadura militar de 1964.

Caso clássico a ser narrado ainda é o do Partido Popular (PP), fundado pelo udenista Magalhães Pinto e por seu antiquíssimo rival, o pessedista Tancredo Neves, em 1980. Mas só duraria dois anos, após reforma partidária imposta pelos sequazes da ditadura. Ou seja, são exemplos eloquentes, mas nem todos deram certo.

Ainda é cedo para determinar êxito ou fiasco da tentativa de qualificar a Frente Ampla partidária formada para atender ao clamor popular pelo fim do desgoverno nazifascistoide de Jair Messias Bolsonaro. Mas manda a prudência temer pela possibilidade de não dar certo a gestão a ser empreendida pela Frente Amplíssima necessária para dar à chapa eleita pelos Partidos dos Trabalhadores (PT) e Socialista Brasileiro (PSB). Pois há nítidos indícios de que o PT não prioriza o fortalecimento de uma aliança multipartidária e mutiideológica para reconstruir o Estado e dar continuidade ao projeto democrático contido na Constituição de 1988, implodidos pela perversa atuação da extrema direita no poder desde 2019.

O emedebista Michel Temer, duas vezes eleito pela população vicepresidente na chapa de Dilma Rousseff, foi excluído da lista de convidados para a diplomação de Lula e Alckmin. Este é o claro recado de que os petistas não desistiram da vingança do impeachment de Dilma, esquecendo que madame não teria mandatos a cumprir sem os votos do aliado da chapa. E mais: que as eleições não foram fraudadas e, portanto, ele não foi golpista, mas eleito pelo voto popular que a elegeu. Isso é grave, mas não é tudo. Pior ainda é a conformação de um governo que não promete ser de um Lula novo, mas a recuperação de um velho desastre econômico que resultou em grotesco arremedo de Pietá nos jardins do Alvorada abandonado por Jair Messias e Michelle Bolsonaro. O Dilma 2 e meio.

A outra vingança é a volta por cima da temporada do líder máximo na prisão da Polícia Federal em Curitiba. Iniciada com a colaboração do adversário favorito na farsa da transformação de multicondenado em inocente-mor, ela se concretiza na tentativa de tornar o presidente eleito uma versão sindical de Nelson Mandela. Consagrando por evidente a desnecessidade de qualquer tipo de arrependimento. Ou da garantia de que um Lula 3 não repita seu passado oculto nas trevas desse nefando acordo com o Congresso de Arhur Lira e seus nefastos orçamento secreto e PEC da Gastança, aumentos absurdos de vencimentos de maiorais de republiqueta e indulgência absoluta para a mais suprema impunidade.

Diante de tais fatos nefastos resta a esperança que a divisão do País, refletida nas votações dos candidatos a presidente, sirva de alerta contra abusos repetitivos e insuportáveis. O povo brasileiro não suporta mais farsas e avanços absurdos de assaltos ao erário, seja em arrombamentos dos cofres das viúvas, seja no aumento da dívida pública para sustentar sombra, água fresca e luxo nos palácios de ostentação de uma casta indiferente, insensível e insaciável. A história já deu várias demonstrações de que quando a situação chega a esses extremos, uma explosão pode se tornar inevitável. É melhor criar juízo e consertar. 

*Jornalista, poeta e escritor

 

Esportes

Dia do fico! Fábio Carille rejeita proposta do Vasco e segue no Santos

02.05.2024 14:00 3 minutos de leitura
Visualizar

Lula promete recursos e 'foco no resgate' das vítimas no RS

Wesley Oliveira Visualizar

Flamengo divulga balanço financeiro do 1° trimestre de 2024

Visualizar

Às vésperas do Copom, Haddad e Campos Neto se reúnem em São Paulo

Visualizar

Alerta para risco de rompimento de barragem em Caxias do Sul

Visualizar

Onde assistir Botafogo x Vitória: confira detalhes da partida

Visualizar

Tags relacionadas

Ariano Suassuna Dilma Rousseff esquerda Frente Ampla Geraldo Alckmin José Nêumanne Lula Michel Temer Partido dos Trabalhadores (PT) vingança
< Notícia Anterior

A estratégia oculta da falsa frente ampla

25.12.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Dino chama atos em quartéis de ‘incubadoras de terroristas’

25.12.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

José Nêumanne Pinto

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Pacheco x STF: a briga é para valer?

Pacheco x STF: a briga é para valer?

Madeleine Lacsko
29.04.2024 18:22 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
Felipe Neto, o Excrementíssimo e a liberdade de expressão

Felipe Neto, o Excrementíssimo e a liberdade de expressão

Madeleine Lacsko
26.04.2024 17:10 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
Josias Teófilo na Crusoé: Duas faces do Brasil

Josias Teófilo na Crusoé: Duas faces do Brasil

26.04.2024 15:59 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Jerônimo Teixeira na Crusoé: Alex Jones e os limites da liberdade

Jerônimo Teixeira na Crusoé: Alex Jones e os limites da liberdade

26.04.2024 15:50 2 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.