O Stand up tragedy de Bolsonaro O Stand up tragedy de Bolsonaro
O Antagonista

O Stand up tragedy de Bolsonaro

avatar
André Marsiglia Santos
3 minutos de leitura 23.10.2021 16:50 comentários
Opinião

O Stand up tragedy de Bolsonaro

O político romano Caio Graco não conheceu o presidente Jair Bolsonaro, falha da história. O presidente Jair Bolsonaro certamente não conhece Caio Graco, falha de seus livros de história que tinham muita coisa escrita. Mas ambos têm algo em comum: a política do panem e...

avatar
André Marsiglia Santos
3 minutos de leitura 23.10.2021 16:50 comentários 0
O Stand up tragedy de Bolsonaro
Foto: Adriano Machado/Crusoé

O político romano Caio Graco não conheceu o presidente Jair Bolsonaro, falha da história. O presidente Jair Bolsonaro certamente não conhece Caio Graco, falha de seus livros de história que tinham muita coisa escrita.

Mas ambos têm algo em comum: a política do panem et circenses. Caio, na Roma antiga, a criou. Juvenal, poeta satírico, a batizou. E embora todos os presidentes do Brasil arcaico – período histórico compreendido entre 1.500 e hoje – tenham se valido dela, cumpre reconhecer que Bolsonaro a desenvolveu e aperfeiçoou.

Digo isso porque o pão e circo bolsonarista é diferente. Não tem pão; é só circo. Os caminhoneiros que transportavam o pão estão entrando em greve, e as sobras foram comidas pela inflação.

Bolsonaro também inovou no que importa ao circo. O romano era uma arena em que os cristãos, jogados para guerrear com leões, divertiam o resto do povo.

No circo bolsonarista, o povo é jogado para guerrear com o coronavírus, e essa parece ser a diversão do próprio Bolsonaro, que fez o que pôde para politizar e atrasar a obtenção de vacinas, e tem achado muita graça na desgraça apurada pela CPI da Covid-19.

A diversão dada ao povo, nesse caso, é outra. Uma espécie de stand up, não cômico, mas trágico, com uma pitada de indiferença em meio ao caos. São vídeos com trocadilhos constrangedores, discursos bizarros, medidas de força esdrúxulas, lacrações na internet, tudo de péssimo gosto, quando não ilícito.

O humor, mesmo o mais tosco, sempre teve uma dupla função: servir como instrumento de crítica social, como nos ensina o provérbio latino ridendo castigat mores, e também como forma de ocultar a tragédia por trás do riso.

É desse segundo tipo o stand up tragedy bolsonarista. Serve, a um só tempo, como gasolina para motivar o riso sinistro de sua rede, e como colírio para embaçar o olhar dos críticos às mazelas do país.

O governo convoca jornalistas para depor, xinga veículos de comunicação, sua claque vibra, gargalha nas redes, e o olhar dos críticos é desviado.

No fim do dia, pouco se falou da considerável parcela da população que se alimenta de lixo e restos, se engalfinhando nas calçadas na disputa por um lugar para instalar sua barraca.

Uma revista semanal publica uma capa que, reconheçamos, é pesada, na qual compara Bolsonaro a Hitler, e é notificada para publicar uma outra que consegue, de tão ridícula, chamar mais a atenção do que a original. E, naquele dia, passa batido que o dólar chegou a 6 reais.

E assim vamos.

Ou não vamos.

É necessário que façamos urgentemente a crítica dos críticos. Talvez devêssemos todos passar a ignorar o lamentável stand up tragedy bolsonarista e falar apenas da fome, das mortes, do povo oprimido nas ruas, nas vilas, favelas.

Algo que não tem graça nenhuma. Ao contrário, dá é uma baita vontade de chorar.

Até mesmo escondido no banheiro.

André Marsiglia Santos é advogado constitucionalista e articulista. Atua com liberdades de expressão e de imprensa

Twitter: (@marsiglia_andre)
LinkedIn: (André Marsiglia Santos )

Economia

56 milhões de brasileiros ganham dinheiro sem trabalhar

19.04.2024 16:06 2 minutos de leitura
Visualizar

Onde assistir Novorizontino x CRB: confira detalhes da partida

Visualizar

Mãe de Lexa é anunciada como rainha de bateria

Visualizar

Josias Teófilo na Crusoé: O paradoxo da censura

Visualizar

Casa Branca não vai comentar tensão entre Irã e Israel

Visualizar

Boulos é processado por dizer que Nunes rouba

Visualizar

Tags relacionadas

André Marsiglia Santos circo CPI da Covid humor Jair Bolsonaro stand up
< Notícia Anterior

Moraes concede domiciliar a bolsonarista que disse ter prêmio por “cabeça” do ministro

23.10.2021 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Rogério Caboclo é alvo de nova denúncia de assédio sexual

23.10.2021 00:00 4 minutos de leitura
avatar

André Marsiglia Santos

André Marsiglia Santos é advogado constitucionalista especializado em liberdades de expressão e de imprensa. Membro da Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB-SP, e da Comissão de Mídia e Entretenimento do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP), Consultor Jurídico da Associação Nacional de Editores (ANER) e membro da 4ª câmara de julgamento do Conselho de Ética do CONAR. Idealizador da L+: Speech and Press e sócio do Lourival J Santos Advogados.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Josias Teófilo na Crusoé: O paradoxo da censura

Josias Teófilo na Crusoé: O paradoxo da censura

19.04.2024 15:57 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Ivan Sant'Anna na Crusoé: Guerra Fria — segunda versão

Ivan Sant'Anna na Crusoé: Guerra Fria — segunda versão

19.04.2024 15:48 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Letícia Barros na Crusoé: As ameaças dos piratas do mundo real

Letícia Barros na Crusoé: As ameaças dos piratas do mundo real

19.04.2024 14:54 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Vingança contra a Lava Jato: quem ganha e quem perde no longo prazo?

Vingança contra a Lava Jato: quem ganha e quem perde no longo prazo?

Madeleine Lacsko
18.04.2024 18:05 3 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.