Não importa se Putin está louco ou doente Não importa se Putin está louco ou doente
O Antagonista

Não importa se Putin está louco ou doente

avatar
Mario Sabino
4 minutos de leitura 08.03.2022 08:16 comentários
Opinião

Não importa se Putin está louco ou doente

Os ucranianos civis que permanecem em Kiev, firmes na disposição de ajudar na resistência ao exército russo que avança com dificuldade rumo à capital do país, cercam a praça Maidan, no centro da cidade, com barricadas feitas de sacos de areia. Defendem, assim, o local de onde irradiou a revolução de 2013-2014, que derrubou o fantoche de Vladimir Putin (foto) que ocupava a presidência da República, Viktor Ianoukovitch, por ter traído a sociedade ucraniana ao não assinar o acordo que permitiria o ingresso da Ucrânia na União Europeia...

avatar
Mario Sabino
4 minutos de leitura 08.03.2022 08:16 comentários 0
Não importa se Putin está louco ou doente
Foto: TASS/ Kremlin

Os ucranianos civis que permanecem em Kiev, firmes na disposição de ajudar na resistência ao exército russo que avança com dificuldade rumo à capital do país, cercam a praça Maidan, no centro da cidade, com barricadas feitas de sacos de areia. Defendem, assim, o local de onde irradiou a revolução de 2013-2014, que derrubou o fantoche de Vladimir Putin (foto) que ocupava a presidência da República, Viktor Ianoukovitch, por ele ter traído o povo ao não assinar o acordo que permitiria o ingresso da Ucrânia na União Europeia.

Homens e mulheres, velhos e jovens, juntavam-se ontem nesse esforço de construção de barricadas, ao som do hino ucraniano, numa demonstração de que o patriotismo pode não ser apenas o último refúgio dos canalhas, como escreveu Samuel Johnson, mas também o dos heróis anônimos. Assim como ocorreu na Revolução da Praça Maidan e, decênios antes, nos sofrimentos infligidos por Adolf Hitler e Josef Stalin, o patriotismo ucraniano vem sendo forjado no sangue, no suor e nas lágrimas — e, nesse caso, essa está longe de ser apenas uma imagem de oratória.

Vladimir Putin tenta cancelar a existência da Ucrânia como país, mas as suas fronteiras são bem definidas e muito mais amplas do que ele imagina, porque estão desenhadas nas almas dos resistentes e mesmo daqueles que escaparam do inferno russo, para salvar as suas crianças e velhos. Hoje, o número de refugiados deverá chegou a 2 milhões. A previsão é que até 5 milhões de ucranianos poderão afluir à Polônia, Eslováquia, Romênia e Moldávia, que fazem fronteira com o país agredido covardemente pela Rússia. Mas se engana quem pensa que isso representa uma derrota: redobra a força dos que ficaram.

Enquanto os soldados de Vladimir Putin arrasam cidades inteiras, matando e aterrorizando civis, e fingem organizar “corredores humanitários”, o Ocidente pergunta-se se o ditador russo está desequilibrado. Diante dos absurdos a que se assiste na Ucrânia, o pretexto falso de que a Otan é uma ameaça e de que o país foi invadido por ser “nazista” e persegue as minorias de língua russa caiu completamente por terra, sobrevivendo apenas na propaganda comandada pelo Kremlin e nas mentes idiotas que povoam as redes sociais.

De fato, desde que começou a pandemia de Covid-19, o ditador russo isolou-se ainda mais do já pouco convívio humano que mantinha, convivendo apenas com os seus fantasmas e ilusões de onipotência. Hoje, segundo se diz na imprensa europeia, ele tem contato com apenas cinco pessoas. Uma das suposições é que o seu medo exagerado de pegar o vírus é porque ele padece de uma doença grave que fragilizou o seu sistema imunitário. A outra é que, com a paranoia elevada à enésima potência, ele receia ser assassinado por um opositor infiltrado no Kremlin. Não há necessariamente excludência nessas possibilidades.

Se Vladimir Putin está louco, doente ou ambas as coisas não importa para os ucranianos, da mesma forma que a saúde mental de Adolf Hitler não importava para os povos dos quais foi carrasco. Deveria importar apenas para os próprios russos. O fato verificável é que tudo o que Vladimir Putin perpetra hoje já foi cometido por ele em outros conflitos. Usar “corredores humanitários” como armadilhas para civis, por exemplo, foi artifício utilizado na Síria, em 2015, para tomar a cidade de Alep, que resistia ao ditador Bashar al-Assad. Os “corredores humanitários” só facilitavam o bombardeio mortífero de vítimas indefesas. Os ataques aéreos a alvos civis também ocorreram em Grozny, na Chechênia, em 1994 e 1999, e em Donbas, na própria Ucrânia, em 2014. A sua crença de que foi um erro trágico deixar o império soviético esfacelar-se vem sendo manifestada desde que ele assumiu poder, há 22 anos.

Há linha de pensamento e método, portanto, no que seria a loucura de Vladimir Putin — e, se ele sofre de alguma doença terminal, só está apressando o que sempre pensou ser o seu destino, o de ressuscitar o que pensa ser a “grande Rússia”. A pergunta a ser feita continua a ser como é que o Ocidente pôde fechar os olhos para um personagem demoníaco como esse, seja por meio da tibieza na reação às suas brutalidades, seja pela dependência do gás e do petróleo russos.

É essa pergunta que deve estar na cabeça dos ucranianos que hoje constroem barricadas na Praça Maidan.

Esportes

Botafogo vence o Universitario pela Libertadores com golaço de Luiz Henrique

24.04.2024 22:15 3 minutos de leitura
Visualizar

Flamengo na Libertadores: Tite faz mudanças de última hora na escalação

Visualizar

O cinismo de André Janones sobre rachadinha

Visualizar

PC-RJ indicia suspeitos por assassinato de advogado a queima roupa

Visualizar

20 toneladas de queijo sao apreendidas em Minas Gerais

Visualizar

Ludmilla ganha relógio de luxo de Brunna no aniversário de 29 Anos

Visualizar

Tags relacionadas

artigo Chechênia corridores humanitários doença terminal donbas império soviético invasão da Ucrânia loucura Mario Sabino O Antagonista síria Vladimir Putin
< Notícia Anterior

Shell pede desculpas e diz que não vai mais comprar petróleo russo

08.03.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Eleições: Cinco partidos exibem propaganda partidária nesta semana

08.03.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Há uma diferença entre defender a Palestina e pedir assassinato de judeus

Há uma diferença entre defender a Palestina e pedir assassinato de judeus

Madeleine Lacsko
24.04.2024 18:49 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
Você trocaria um Jair Bolsonaro por um Elon Musk?

Você trocaria um Jair Bolsonaro por um Elon Musk?

Madeleine Lacsko
22.04.2024 18:56 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
Petismo entrega Janones à vingança do Bolsonarismo

Petismo entrega Janones à vingança do Bolsonarismo

Madeleine Lacsko
19.04.2024 19:14 4 minutos de leitura
Visualizar notícia
Josias Teófilo na Crusoé: O paradoxo da censura

Josias Teófilo na Crusoé: O paradoxo da censura

19.04.2024 15:57 2 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.