Michelle Bolsonaro e os dois tipos de hipocrisia Michelle Bolsonaro e os dois tipos de hipocrisia
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Michelle Bolsonaro e os dois tipos de hipocrisia

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Carlos Graieb
3 minutos de leitura 06.12.2021 21:01 comentários
Brasil

Michelle Bolsonaro e os dois tipos de hipocrisia

A hipocrisia vem em duas formas. A primeira é aquela que o duque de La Rochefoucauld definiu, no século 17, como uma homenagem que o vício presta à virtude. Ela nos faz cumprimentar polidamente o sujeito que consideramos abominável, para não envenenar o clima na festa de fim de ano. Tem algo a ver com tolerância e civilidade...  

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Carlos Graieb
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Michelle Bolsonaro e os dois tipos de hipocrisia
Foto: Reprodução

A hipocrisia vem em duas formas. 

A primeira é aquela que o duque de La Rochefoucauld definiu, no século 17, como uma homenagem que o vício presta à virtude. Ela nos faz cumprimentar polidamente o sujeito que consideramos abominável, para não envenenar o clima na festa de fim de ano. Tem algo a ver com tolerância e civilidade.

A outra forma de hipocrisia exige para si um tratamento que não está disposta a conceder aos outros. É aquela do fulano woke, alerta às mais ínfimas nuances da identidade de gênero e sempre pronto a repreender quem se atrapalha com a nova etiqueta dos pronomes, que no entanto zomba de Michelle Bolsonaro quando ela publica um vídeo religioso em suas redes sociais. 

Michelle teve razão ao reclamar da zombaria e descrevê-la como uma manifestação de “intolerância”. Evangélicos são, sim, alvo de preconceito no Brasil. Mas dizer isso não é a única razão de ser deste artigo. 

Escrevo para dizer também que Michelle Bolsonaro e um bom número de lideranças pentecostais brasileiras são hipócritas ao demandar para o seu credo um respeito que não estão dispostos a conceder a outras religiões, especialmente as afro-brasileiras. 

Assim que se mudou para o Palácio da Alvorada, a primeira-dama mandou logo esconder no acervo da Presidência um quadro da pintora Djanira, nome importante do modernismo brasileiro, que retrata quatro orixás. Ah, mas ela seria obrigada a conviver com imagens que se chocam com sua religião durante quatro anos? Para uma primeira-dama, morando em um prédio público e supostamente interessada em promover a tolerância religiosa, acredito que a resposta seria sim. 

Mas isso é pouco diante das agressões e atentados dirigidos contra terreiros em todo o Brasil. Uma parte deles se deve a facções criminosas envolvidas em disputas territoriais. Mas a demonização do candomblé e da umbanda por muitos pastores neopentecostais também aparece entre as causas.

Em 2019, a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, evangélica, disse que a proteção das religiões afro-brasileiras “teria atenção” do governo. Mas sua gestão não tem muito que mostrar nessa área. Os últimos dados disponibilizados por sua pasta mostraram um aumento de 41,2% nos casos de discriminação religiosa registrados no país, entre os primeiros semestres de 2020 e 2019. Historicamente, os cultos de matriz africana aparecem no topo dessas estatísticas.

No meu mundo ideal, religião seria assunto da esfera privada, tanto quanto orientação sexual. Mas não é assim que o mundo funciona. Esses assuntos vivem transbordando para a esfera pública. Se esse é o caso, não conheço outra solução que não seja defender incondicionalmente um Estado laico, ou seja, neutro diante de todas as religiões, e jamais deixar sem resposta os  hipócritas do segundo tipo. 

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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