Jabor, o mentiroso Salles e o longo passado pela frente Jabor, o mentiroso Salles e o longo passado pela frente
O Antagonista

Jabor, o mentiroso Salles e o longo passado pela frente

avatar
Mario Sabino
4 minutos de leitura 15.02.2022 11:53 comentários
Opinião

Jabor, o mentiroso Salles e o longo passado pela frente

Arnaldo Jabor morreu, aos 81 anos, depois de passar a vida querendo assistir ao nascimento de um novo Brasil. Infelizmente, é como morreremos todos nós que passamos a maior parte do tempo denunciando, esbravejando, analisando, escrevendo e falando sobre este triste país, de uma perspectiva que não compactua com a burrice, a ignorância, a desonestidade (inclusive intelectual), o patrimonialismo, a vulgaridade e a caipirice. Num dos seus comentários no Jornal da Globo, em outubro do ano passado, ao comentar sobre a CPI da Covid, Arnaldo Jabor afirmou que, depois de tudo o que foi revelado, "se a velha política prevalecer, podemos sair da barbárie para a decadência, sem conhecer a civilização...

avatar
Mario Sabino
4 minutos de leitura 15.02.2022 11:53 comentários 0
Jabor, o mentiroso Salles e o longo passado pela frente
Foto: Divulgação/Roque Assessoria

Arnaldo Jabor morreu, aos 81 anos, depois de passar a vida querendo assistir ao nascimento de um novo Brasil. Infelizmente, é como morreremos todos nós que passamos a maior parte do tempo denunciando, esbravejando, analisando, escrevendo e falando sobre este triste país, de uma perspectiva que não compactua com a burrice, a ignorância, a desonestidade (inclusive intelectual), o patrimonialismo, a vulgaridade e a caipirice. Num dos seus comentários no Jornal da Globo, em outubro do ano passado, ao comentar sobre a CPI da Covid, Arnaldo Jabor (foto) afirmou que, depois de tudo o que foi revelado, se a velha política prevalecer, podemos sair da barbárie para a decadência, sem conhecer a civilização. Pois como sentenciou Millôr Fernandes uma vez: o Brasil tem um longo passado pela frente. Pois é, a velha política prevaleceu e continuará prevalecendo.

O longo passado pela frente se desenrola todos os dias a trabalhadores e pequenos e médios empresários da área produtiva, às voltas com cidades precárias e serviços essenciais abaixo da crítica, falta de oportunidades, impostos altos, criminalidade, corrupção e ganhos obscenos de um mercado financeiro que só suga as energias de um país exangue, mas acha que está fazendo um bem danado à nação. Desenrola-se, e enrola, também por meio da hipocrisia, da demagogia e das mentiras deslavadas ditas nas diferentes esferas do poder ou nas suas proximidades.

E é assim que, no dia em que morreu Arnaldo Jabor, o idiota aqui, o palhaço aqui, vê-se obrigado a falar de Ricardo Salles, o ex-ministro da Destruição do Meio Ambiente. Esse senhor foi ao Twitter dizer que foi Jair Bolsonaro quem convenceu Vladimir Putin a desistir da invasão da Ucrânia. Como se não bastasse, Ricardo Salles ainda publicou uma montagem de uma capa da revista Time, com a foto do presidente brasileiro e os seguintes dizeres: “Prêmio Nobel da Paz 2022. Bolsonaro, o  homem que poderá definir o futuro do planeta. Com viagem à Rússia agendada, o Brasil tem papel fundamental na crise entre Rússia e Ucrânia”. Além de publicar a montagem, o ex-ministro da Destruição do Meio Ambiente comentou “Parabéns, presidente!”. Mais: Ricardo Salles publicou uma montagem com o logo da CNN, para dizer que Jair Bolsonaro evitou “a Terceira Guerra Mundial” — e a emissora viu-se obrigada a desmentir o absurdo evidente. Meme, uma ova. Tudo foi feito para que a safadeza fosse replicada pelo gado e lograsse os desavisados, que não são poucos.

A enormidade está muito além da “pós-verdade” ou qualquer outro eufemismo que se possa usar em relação ao que não passa de mentira, enganação, conto do vigário, embuste, gazopa, trapaça. É pura cara de pau. Jair Bolsonaro foi à Rússia porque está isolado no cenário internacional e, por isso, prestou-se a fazer o jogo de Vladimir Putin, sem medir as consequências do seu ato e muito menos demonstrar qualquer solidariedade real em relação à Ucrânia, como escrevi ontem. Se Vladimir Putin desistiu mesmo de cometer a agressão ao país vizinho, e não é que o seu recuo esteja garantido, isso se deve à atuação intensa da diplomacia americana e europeia, do receio das consequências para a economia do país e da falta de apoio da população russa, que não foi suficientemente enganada pela historieta de que é a Ucrânia que representa uma ameaça.

Como é que pode um ex-ministro ser tão mentiroso, tão irresponsável, e espalhar fake news desse jeito?  E não me venham dizer que essa patranha é liberdade de expressão. Porcaria nenhuma. Respeitem os meus 60 anos, por favor, a maior parte deles desperdiçados defendendo a liberdade de expressão e tomando pancada no lombo por causa dessa escolha pessoal, e pancada de verdade, não cancelamento em Twitter. Ricardo Salles não difere dos demais próceres bolsonaristas — os filhos do presidente, principalmente–, que espalham mentiras cabeludas o tempo inteiro. Mas o idiota aqui, o palhaço aqui, ainda se espanta quando se depara com uma barbaridade dessas, vinda de quem foi autoridade até ontem, e autoridade com interlocução internacional.

Não há conexão entre o bolsonarismo e a realidade, entre o bolsonarismo e a honestidade, o que não é particularidade, infelizmente, mas outro sintoma de que não há vasos comunicantes entre o Brasil e a civilização. Passaremos da barbárie para a decadência, tendo um longo passado pela frente. Descanse em paz, Jabor. Um dia a gente também chega lá.

Esportes

Dayverson recebeu proposta do Santos, diz presidente do Cuiabá

20.04.2024 08:45 2 minutos de leitura
Visualizar

Mauro Vieira em reunião bilateral com chanceler do Irã

Visualizar

Corinthians, em crise, enfrenta o RB Bragantino precisando vencer

Visualizar

China reinventa a guerra com nova Força Militar

Visualizar

Concurso Sete Lagoas: Novas datas e inscrições após atualização

Visualizar

Calendário de restituição do IR 2024: saiba quando receber

Visualizar

Tags relacionadas

arnaldo jabor artigo bolsonarismo fake news no Twitter invasão da Ucrânia Jair Bolsonaro Mario Sabino morte de Arnaldo Jabor O Antagonista Ricardo Salles Rússia
< Notícia Anterior

Canadá vai bloquear conta bancária de manifestantes antivacina

15.02.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Exercícios militares na Rússia continuam

15.02.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Petismo entrega Janones à vingança do Bolsonarismo

Petismo entrega Janones à vingança do Bolsonarismo

Madeleine Lacsko
19.04.2024 19:14 4 minutos de leitura
Visualizar notícia
Josias Teófilo na Crusoé: O paradoxo da censura

Josias Teófilo na Crusoé: O paradoxo da censura

19.04.2024 15:57 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Ivan Sant'Anna na Crusoé: Guerra Fria — segunda versão

Ivan Sant'Anna na Crusoé: Guerra Fria — segunda versão

19.04.2024 15:48 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Letícia Barros na Crusoé: As ameaças dos piratas do mundo real

Letícia Barros na Crusoé: As ameaças dos piratas do mundo real

19.04.2024 14:54 2 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.