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A ferocidade do Brasil matou o rapaz congolês

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Mario Sabino
3 minutos de leitura 01.02.2022 17:28 comentários
Opinião

A ferocidade do Brasil matou o rapaz congolês

O congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, conseguiu asilo no Brasil em 2011, juntamente com a mãe e os irmãos, na condição de refugiado político proveniente de um país permanentemente conflagrado. Dava expediente num quiosque de praia, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e recebia diárias pelo trabalho. O gerente do quiosque lhe devia diárias atrasadas, no valor total de 200 reais. Quando Moïse (foto) foi cobrá-lo, no último dia 24, a situação descambou e ele se viu agredido de maneira covarde. Acabaria morrendo espancado...  

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A ferocidade do Brasil matou o rapaz congolês
Reprodução: Redes Sociais

O congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, conseguiu asilo no Brasil em 2011, juntamente com a mãe e os irmãos, na condição de refugiado político proveniente de um país permanentemente conflagrado. Dava expediente num quiosque de praia, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e recebia diárias pelo trabalho. O gerente do quiosque lhe devia diárias atrasadas, no valor total de 200 reais. Quando Moïse (foto) foi cobrá-lo, no último dia 24, a situação descambou e ele se viu agredido de maneira covarde. Acabaria morrendo espancado.

Em entrevista ao G1, Yannick Kamanda, primo da vítima relatou o que se passou, baseado nas imagens das câmeras de segurança instaladas no local:

“O início da gravação que eu vi é ele reclamando com o gerente do quiosque. Alguns minutos seguintes, o gerente pegou um pedaço de madeira para ameaçar ele. Até então, ele estava só recuando. E o cara foi atrás dele. Como ele estava reivindicando alguma coisa, ele pegou uma cadeira e dobrou para se defender. Ele não chegou a atacar ninguém. O gerente chamou uma galera que estava na frente do quiosque. Até então tinha só um sentado. Veio uma galera que o arremessou no chão, tentando dar um golpe de mata-leão nele. Vieram mais algumas pessoas bater nele com madeira, veio outro com uma corda, amarrou as mãos e as pernas para trás, passou a corda pelo pescoço. Ficou amarrado no mata-leão, apanhando. Tomando soco e taco de beisebol nas costelas. Até ele desmaiar.”

Ninguém veio em socorro do rapaz e, dado ainda mais chocante, o quiosque continuou a funcionar normalmente, com o corpo de Moïse Mugenyi Kabagambe que jazia ali ao lado, sem vida. “Eles foram embora e ficou só o gerente do quiosque. E ele deitado no chão, como se nada estivesse acontecendo. Trabalhando, atendendo cliente. E o corpo lá”, disse Yannick Kamanda. A família só soube do assassinato no dia seguinte, doze horas depois de o crime ser cometido. O corpo estava amarrado a uma escada do quiosque.

No vídeo que foi publicado depois (assista abaixo), vê-se primeiramente a altercação entre Moïse Mugenyi e o gerente. Em seguida, chegam os facínoras assassinos e começa o espancamento. A cena choca pela selvageria. O rapaz foi morto a pauladas. Em seguida, parecem tentar fazer massagem cardíaca na vítima desfalecida. Mas ele já estava morto de um tipo de morte da qual havia fugido no seu país natal. Moïse Mugenyi Kabagambe teve os pulmões perfurados.

Mouse Mugenyi Kabagambe foi alvo de racismo e xenofobia, como acusam movimentos negros? Consta que outros três congoleses foram mortos nos últimos tempos. Pelas imagens do vídeo, entre os agressores havia também pretos. Na minha opinião, contudo, há algo que precede o racismo e a xenofobia e torna tudo ainda mais abjeto: a ferocidade da sociedade brasileira. A vida, qualquer vida, não tem valor nenhum no Brasil. Convivemos com índices de criminalidade e brutalidade incompatíveis com qualquer nação que se pretenda minimamente civilizada. Esquecemos, se é que algum dia soubemos, que vidas importam. Todas elas.

Meus sentimentos à família de Moïse Mugenyi Kabagambe.

Atualização: um dos facínoras se entregou à polícia. Em entrevista ao SBT, afirmou que “não queria tirar a vida” do rapaz. Imagine se quisesse.

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Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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