“O Banco Central e todos os economistas erraram as previsões” “O Banco Central e todos os economistas erraram as previsões”
O Antagonista

“O Banco Central e todos os economistas erraram as previsões”

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Antonio Temóteo
8 minutos de leitura 03.10.2021 11:00 comentários
Entrevista

“O Banco Central e todos os economistas erraram as previsões”

O Banco Central e os economistas brasileiram erraram nas previsões para a economia brasileira no ano passado e para 2021. A declaração é do economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo…  

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Antonio Temóteo
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“O Banco Central e todos os economistas erraram as previsões”
Reprodução/TV Estadão

O Banco Central e os economistas brasileiram erraram nas previsões para a economia brasileira no ano passado e para 2021. A declaração é do economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo.

Em entrevista a O Antagonista, ele afirmou que tanto os analistas de mercado quando os diretores do BC não conseguiram prever que a inflação aumentaria no Brasil e no mundo ao longo de 2021.

“Ninguém acertou que esse processo de interrupção das cadeias produtivas aconteceria e geraria uma inflação global. Nosso problema de inflação e crescimento não tem relação com demanda. É um problma de oferta. E economistas entendem pouco de oferta. Oferta tem relação com reformas de longo prazo para aumentar a produtividade. Demanda é só entregar o dinheiro para as pessoas que elas vão lá e compram”, disse.

Leia abaixo a íntegra da entrevista.

O endividamento público tem preocupado os investidores?

O Brasil tem um problema fiscal complicado. A relação entre a dívida e o PIB é muita alta para os padrões de paísees emergentes. Aqui a dívida chega a 80% do PIB e a média dos país mergentes está perto de 50%. Mas em 2021 os dados fiscais do Brasil tem sido relativamante positivos. O aumento dos gastos obrigatórios tem sido menor do que o esperado, principalmente por conta da reforma da previdência. O congelamento de salários de servidores, o crescimento da economia mais rápido do que o esperado e a inflação mais alta têm contribuído para esse processo. Essa combinação tem feito com que a relação entre a dívida pública e o PIB diminua em 2021, ou contrario do que era previsto no fim de 2020. O mercado esperava que o endividamento público estaria mais perto de 100%. São dados bastante positivos.

E por que os dados estão positivos?

Fundamentalmente, os dados estão positivos porque existe um negócio chamado teto de gastos. Com o aumento das receitas, impulsionado pelo crescimento econômico acima do esperado em 2021, o governo tem que usar esses recursos para pagar a dívida. Sem o teto de gastos, os recursos decorrentes do aumento da arrecadação poderiam ser usados para aumentar o gasto público. E isso elevaria a dívida pública em relação ao PIB. O ancora a percepção dos investiores de que há alguma austeridade fiscal é a existência do teto de gastos.

E por que há incerteza entre os investidores com o crescimento econômico em 2022?

Existe sempre uma ameaça ao teto de gastos e isso é um problema. Existem ameaças ao teto com o aumento do gasto com precatórios, com os debates sobre a prorrogação do auxílio emergencial, com a possibilidade de o governo criar o Auxílio Brasil para substituir o Bolsa Família. Essas ameaçam geram um receio nos investidores de que o teto será rompido e o Brasil perderá a ancora fiscal. O barco está ancorado, por meio do teto de gasttos. Dado o ambiente de crise e tempestade no mar, o barco ficaria a deveria sem o teto de gastos e bateria em um rochedo. Assim que os investidores percebem a situação. Logo, há aumento do risco fiscal, que gera desvalorização cambial, que gera incerteza e pressiona a taxa de inflação.

A inflação vai ceder em 2022?

Nosso cenário prevê que a taxa de inflação terminará o ano em 8,5% e cairá para 4,1% em 2022. Esperamos que o BC leverá a Selic para 9% ao ano no começo do próximo ano. Esse cenário tem uma suposição importante. Ele parte do princípio de que boa parte dos choques exógenos que afetam a economia mundial atualmente e são altamente inflacionários vão dimiuir. A questão inflacionária não é um problema brasileiro. É um problema mundial. Está mais relacionado aos choques exógenos aos quais os bancos centrais não tem qualquer controle. São choques nos preços das commodities metálicas, agrícolcas e energéticas. Há um probelma no lado da oferta. Houve uma disrrupção das cadeias produtivas e isso diminuiu a oferta de bens e insumos para a economia mundial.

Por que isso ocorreu?

No começo da pandemia, independentemente de ser sido correto ou não ter sido correto, a política do “fique em casa para salvar vidas” fez com que o processo produtivo de muitas empresas fosse interrompido. As empresas mandaram os trabalhadores para casa, demitiram os empregados e romperam os contratos com fornecedores. Em suma, interromperam o fluxo das cadeias produtivas. Ao mesmo tempo, os governos adotaram políticas fiscais extramamente agressivas de transferência de renda para as pessoas que ficaram desempregadas. Não estou questionando se foi correto ou não foi correto. Eu acho que para salvar vidas, a única solução era essa. O problema é que isso fez com que as cadeias produtivas fossem interrompidas, diminuindo a oferta de bens. Ao mesmo tempo em que os governos faziam políticas fiscais muito agressivas para evitar que as pessoas morressem de fome. Isso manteve a demanda aquecida. Como as pessoas não podiam sair de casa, a demanda por serviços caiu muito, começou a sobrar renda e as pessoas começaram a consumir mais bens. As pessoas compraram mais televisão, mais automóvel, móveis, geladeira. Isso criou um excesso de demanda por bens, gerando uma mudança muito importante na estrutura de inflação. Nos últimos 40 anos, os bens industriais registraram deflação sistematicamente. A inflação estava concentrada no setor de serivços. Com a pandemia, o que está acontecendo é o inverso. A interrupção nas cadeias produtivas na produção de bens fez com que a oferta desabar. A inflação de serviços está baixa. E isso não vai ser resolvido no curto prazo porque a volta dos processos produtivos vai demorar. Tem que recontratar trabalhador, recontratar fornecedor, descobrir novos fornecedores.

Quando o ritmo de alta de preços vai diminuir?

Com o aumento de juros pelo Banco Central, a demanda deve diminuir e teremos menos pressão inflacionária. Nosso cenário pressupõe menos pressão dos preços de bens industriais.

A redução da demanda vai afetar o crescimento econômico em 2022?

Vai afetar. A gente está com um cenário de crescimento em 2021 bastante positivo, esperando alta do PIB de 5,4%. Esse crescimento é muito concentrado no setor de serviços e no comércio. A população está quase toda vacinada com uma dose e e quase 50% das pessoas já tomaram duas doses. As pessoas estão loucas para sair de casa, loucas para consumir serviços. Ir para o bar, para o restaurante, para os estádios de futebol, conversar com os amigos. Na hora que as pessoas se sentirem seguras para sair de casa, a sensação de bem-estar vai mudar completamente. Isso sginifica um aumento de demanda e de crescimento. O Natal promete. O fim de ano promete. E isso deve continuar ao longo de 2022. Agora, por outro lado, a taxa de juros maior reduz demanda. Com isso, a gente está com uma projeção de crescimento em 2022 entre 1,6% e 2%. Estaremos com uma Selci de 9% e com a inflação em 5%. O juro real estará na ordem de 5%, muito acima da taxa neutra de juros da economia brasileira. Isso vai gerar uma desaceleração da economia.

O mercado de trabalho vai se recuperar?

O mercado de trabalho está voltando forte. A Pnad, do IBGE, tem uma defasagem temporal em relação ao Caged. A diferneaça de dois meses é relevante. Se você olhar os dados, o mercado de trabalho está criando vagas no comércio e no setor de serviço. E tem um lado positivo nisso. Esses setores têm uma concentração grande de trabalhadores que hoje são informais, menos qualificado, com salários menores, que são os que mais sofrem com a pandemia. Eles exigem o trabalho presencial. Com a melhora da pandemia, essas pessoas voltarão a trabalhar com carteira assinada e isso vai diminuir as desigualdades.

O Banco Central errou ao reduzir muito a taxa de juros durante a pandemia?

Acho que 99,9% dos economsitas erraram. Entre maio e junho de 2020, todos previam uma taxa de inflação de 1,5% e 2%. Todos previam uma recessão com queda de 10% do PIB. Ninguém acertou que esse processo de interrupção das cadeias produtivas aconteceria e geraria uma inflação global. Nosso problema de inflação e crescimento não tem relação com demanda. É um problma de oferta. E economistas entendem pouco de oferta. Oferta tem relação com reformas de longo prazo para aumentar a produtividade. Demanda é só entregar o dinheiro para as pessoas que elas vão lá e compram. Desde Kaynes, economista só sabe sobre demanda.É difícil ver um economista preocpuado com oferta. O Banco Central e todos os economistas erraram as previsões. Praticamente todos os economistas erraram. Eu não me lembro de economistas que estimaram inflação alta e que a recessão seria menor.

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Antonio Temóteo

Antonio Temóteo é jornalista formado pelo UniCeub. Foi repórter do Correio Braziliense e do UOL. Nesse período, se especializou na cobertura política e econômica em Brasília. Acompanhou o impeachment de Dilma Rousseff e a aprovação de diversas pautas econômicas no Congresso Nacional. Entre outros prêmios, ganhou duas vezes o Esso de Informação Econômica e duas vezes o Abrapp, focado em matérias sobre fundos de pensão.

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