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O zumbi Milton Ribeiro

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Hubert Alquéres
5 minutos de leitura 24.03.2022 17:15 comentários
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O zumbi Milton Ribeiro

Quando assumiu o cargo, havia dúvidas se Milton Ribeiro (foto) conseguiria superar seu antecessor, Abraham Weintraub, em matéria de danos à Educação. Agora a meta foi atingida. Já não são apenas suas declarações preconceituosas ou atentatórias à laicidade do Estado, que por si só já seriam motivos para demissão sumária. O ministro foi mais além, ao instituir um poder paralelo no MEC, comandado por pastores, que direciona verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para municípios com os quais eles têm relações...

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Hubert Alquéres
5 minutos de leitura 24.03.2022 17:15 comentários 0
O zumbi Milton Ribeiro
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Quando assumiu o cargo, havia dúvidas se Milton Ribeiro (foto) conseguiria superar seu antecessor, Abraham Weintraub, em matéria de danos à Educação. Agora a meta foi atingida.

Já não são apenas suas declarações preconceituosas ou atentatórias à laicidade do Estado, que por si só já seriam motivos para demissão sumária. O ministro foi mais além, ao instituir um poder paralelo no MEC, comandado por pastores, que direciona verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para municípios com os quais eles têm relações. A cada hora surgem fatos novos, indicadores de que se instalou na pasta uma central de corrupção com livre acesso à chave do cofre do FNDE.

O país toma conhecimento de cobrança de propina de formas variadas: a peso de ouro, em forma de escambo (prefeitos agraciados pelo esquema tendo de comprar bíblias), e até com desconto de 50% se for paga na hora. Ainda não se sabe o que estar por vir dessa ponta do iceberg, mas as denúncias não vão parar por aí porque prefeitos, que foram achacados pelos lobistas aboletados no MEC, se sentem encorajados a revelar fatos cabeludos.

Milton Ribeiro só não caiu ainda porque são fortes seus vínculos com o presidente e seu círculo íntimo, incluídos aí a primeira-dama e o senador Flávio Bolsonaro, além do ministro do STF André Mendonça, pai da sua indicação como ministro da Educação. Nem mesmo a bancada evangélica está disposta a defender, a ferro e fogo, sua continuidade no cargo.

Essa relação umbilical com o palácio do Planalto explica a afirmação de Bolsonaro de que “não viu nada demais” na gravação revelada pela Folha de S.Paulo. O pior cego é aquele que não quer ver. Há na conversa a confissão de um rosário de crimes cometidos pelo Ministro e pelos dois pastores: desvio de função, violação do preceito constitucional da laicidade do Estado, advocacia administrativa, corrupção ativa e passiva, crime de responsabilidade, entre outros.

Para se manter como ministro, entrou naquela fase de uma mentira puxar outra mentira, até enrolar-se totalmente nesse novelo. Diz uma coisa que imediatamente é desmentida por novas revelações.

Até quando o presidente o blindará? É provável que Milton Ribeiro tenha o mesmo destino de Abraham Weintraub, Ernesto Araújo e Ricardo Sales, jurados de não serem demissíveis nos primeiros momentos, foram em seguida jogados aos leões, quando sua continuidade tornou-se um incômodo para a imagem e popularidade de Bolsonaro. Para o presidente, há um problema adicional: ao não demiti-lo, avaliza a passagem da gravação na qual Ribeiro diz que o presidente pediu para que atendesse as demandas que seriam feitas pelo pastor Gilmar Santos. No meio deste pacote talvez esteja a suspeita criação da Faculdade ITCT, o novo negócio do pastor registrado na Junta Comercial de Goiás no início de março.

Ao não seguir o preceito de Maquiavel segundo o qual o mal se faz de uma vez, ao prolongar a sangria do ministério o presidente fornece munição para a oposição. Está cometendo enorme erro estratégico para sua reeleição. Ribeiro virou um zumbi no MEC. Está acossado pelo parlamento e será alvo de investigação até mesmo da Procuradoria Geral, que pode blindar o presidente, como tem sido sua prática, mas seu guarda-chuva não abrigará o ministro.

Provavelmente, o ministro tenha sido alvo de fogo amigo, uma vez que o FNDE é controlado por partidos do Centrão que formam a base de apoio político do presidente. Podemos estar diante de uma “guerra intestina”, na qual essa base esteja empenhada em reassumir o controle da distribuição do botim do Fundo da Educação.

O FNDE é a cereja do bolo no ministério da Educação, seu comando é intensamente disputado por partidos políticos e parlamentares, tal a sua capilaridade em matéria de distribuição de recursos para os municípios. Em outras palavras, é um filão de verbas e votos. Normalmente a mediação para a liberação desses recursos é feita por parlamentares. A “inovação” de Milton Ribeiro foi substituí-los por pastores, avançando, assim, no aparelhamento do MEC por correntes religiosas.

A escolha de Sofia de Bolsonaro é saber a quem desagrada. Se aos evangélicos que são parte importante do seu eleitorado, ou aos partidos e parlamentares de sua base e que são peças fundamentais em uma disputa eleitoral. Nesta linha fina, infelizmente e mais uma vez, o presidente não levará em consideração o que é melhor para o aprendizado de crianças e jovens em todo o Brasil.

A Educação, que deveria estar comemorando e debatendo o Novo Enem e a aprovação no Senado do Projeto de Lei que criou o Sistema Nacional da Educação, foi arrastada para o lodaçal da corrupção e, a depender dos desdobramentos do caso, irá para seu quinto ministro nesse governo. Ou continuará sendo comandada por um agora zumbi sem as mínimas condições intelectuais e morais para o exercício do cargo. Seja qual for o desfecho, a prioridade do governo continuará sendo a agenda ideológica e o combate a moinhos de ventos como a suposta “ideologia de gênero”.

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Hubert Alquéres

Hubert Alquéres é vice-presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, órgão que presidiu em quatro ocasiões. É membro da Academia Paulista de Educação e da Câmara Brasileira do Livro. Foi secretário-adjunto da educação no governo Mario Covas, diretor técnico da Fundação para o Desenvolvimento da Educação e professor no Colégio Bandeirantes e na Escola Politécnica da USP.

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