Moro: “Se quiséssemos proteger alguém, tínhamos matado a delação da Odebrecht na origem” Moro: “Se quiséssemos proteger alguém, tínhamos matado a delação da Odebrecht na origem”
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Moro: “Se quiséssemos proteger alguém, tínhamos matado a delação da Odebrecht na origem”

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6 minutos de leitura 08.07.2020 12:42 comentários
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Moro: “Se quiséssemos proteger alguém, tínhamos matado a delação da Odebrecht na origem”

Na entrevista a O Antagonista, disponível em vídeo, Sergio Moro refutou as acusações petistas e bolsonaristas de que protegeu rivais de ambos os grupos políticos, seja como juiz da Lava Jato, seja como ministro da Justiça e Segurança Pública. “O que eu posso assegurar é que...

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Moro: “Se quiséssemos proteger alguém, tínhamos matado a delação da Odebrecht na origem”
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Na entrevista a O Antagonista, disponível em vídeo, Sergio Moro refutou as acusações petistas e bolsonaristas de que protegeu rivais de ambos os grupos políticos, seja como juiz da Lava Jato, seja como ministro da Justiça e Segurança Pública.

“O que eu posso assegurar é que a Lava Jato não protegeu ninguém em Curitiba. O que aconteceu é que ela foi centrada e, depois, ela foi até podada de poder se expandir para outros setores. Ela foi centrada em subornos e contratos da Petrobras e aí nós estamos falando do período em que a Petrobras tinha por dirigentes as pessoas nomeadas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os seus aliados políticos: PMDB, PP, PTB. Então, o foco ficou nisso aí. Num outro caso, foi possível ir um pouco para outra área: o deputado André Vargas, que era do PT, teve um processo envolvendo fraudes na Caixa Econômica”, lembrou Moro.

“Houve decisões dos tribunais superiores que determinaram a remessa do processo para outros juízos. Não estou criticando isso, mas foi o entendimento jurídico lá deles; daí foi parte do processo para São Paulo, parte para o Rio de Janeiro, onde eles tiveram velocidades diferentes. A própria parte do processo que envolvia o pessoal com foro privilegiado foi para Brasília e também seguiu seu ritmo diferente, que é normalmente um pouco mais lento do que nas instâncias ordinárias, por conta de todas as questões estruturais do Supremo Tribunal Federal”, explicou o ex-juiz.

“Então o que eu acho engraçado é que às vezes eu vejo uns críticos da Lava Jato que apontam o dedo para Curitiba: ‘Ah, por que protegeu Fulano X? Por que protegeu Fulano Y?’ Não, ninguém protegeu ninguém. Nunca tivemos jurisdição sobre esses casos. Tudo que apareceu nós remetemos para os juízos competentes. Aí tem que ver o que cada juízo competente fez”, disse Moro.

“Mas o acordo, que acho que foi o maior acordo de colaboração em termos de dimensão e resultados, e que envolveu a revelação de pagamentos de subornos para políticos dos mais variados partidos do Brasil – inclusive também gerou uma onda anticorrupção na América Latina de uma maneira geral –, foi esse acordo da Odebrecht. E isso só surgiu por quê? Porque foi em Curitiba que o processo contra esses dirigentes da Odebrecht que pagavam esses subornos avançou. Não fosse isso, uma relação de causa e efeito, não teria todas essas consequências. E se nós quiséssemos proteger alguém, tínhamos matado isso na origem. Para que decretar a prisão preventiva, o processo e a condenação do Marcelo Odebrecht? Não precisava, se eu quisesse, se nós quiséssemos obstruir a Justiça; mas era nosso dever atuar.”

O Antagonista registra que a denúncia da Lava Jato em São Paulo contra o ex-governador do estado e atual senador tucano José Serra tem origem, também, na delação da Odebrecht e cita como fonte de corroboração os depoimentos de Marcelo Bahia Odebrecht, Pedro Novis, Luiz Eduardo Soares, Arnaldo Cumplido, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, Carlos Armando Guedes Paschoal, Roberto Cumplido e Fábio Andreani Galdolfo, todos eles ex-executivos da empreiteira.

Os pagamentos realizados em favor do tucano, segundo a denúncia, “foram registrados nos sistemas de contabilidade da Odebrecht”, onde “eram vinculados ao codinome ‘VIZINHO’, em referência ao fato de que este agente político morava próximo de seu principal contato na companhia, Pedro Novis. Isso, além de informado pelo próprio colaborador Pedro Novis, fica claro nas muitas trocas de e-mails apreendidos no computador de Marcelo Bahia Odebrecht”, que também “confirmou que ‘VIZINHO’ era José Serra”.

Como o próprio MPF resumiu, “milhões de reais foram pagos pela empreiteira por meio de uma sofisticada rede de offshores no exterior, para que o real beneficiário dos valores não fosse detectado pelos órgãos de controle”. O processo de compartilhamento internacional de dados começou em 2017, quando o Ministério Público da Suíça recebeu um pedido de cooperação do Brasil para investigar o caso, mas somente no início de 2019 as autoridades suíças deram o sinal verde para a transferência aos procuradores brasileiros de extratos bancários relativos às suspeitas envolvendo Serra, rejeitando um último recurso da defesa, que tentava impedi-la.

Para refutar a narrativa bolsonarista de que a denúncia contra o tucano só ocorreu porque Moro saiu do governo federal, o ex-ministro já havia se referido não só à delação da Odebrecht, mas aos dois anos de espera pela liberação dos extratos, apontando no Twitter que “às vezes a vinda de documentos de outros países demora”.

“Então quando as pessoas vêm com esses ‘argumentos’, eu não sei se as pessoas acreditam nisso”, disse Moro a O Antagonista. “Eu acho que não. É uma questão mais política, imagino, de ter que falar alguma coisa. É a mesma coisa que acontecia na época do PT. Também criticavam. Mas esse acordo da Odebrecht afetou todos os partidos políticos, [inclusive] os adversários do Partido dos Trabalhadores: políticos do PSDB, políticos do PMDB… Eduardo Cunha [foi] preso, o Aécio Neves, de quem falam muito, não pôde mais concorrer ao Senado [em razão da imagem desgastada], foi concorrer para deputado e ainda conseguiu [se eleger].”

O Antagonista lembrou que Aécio tem foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal.

“Exatamente”, continuou Moro. “A competência é do Supremo. Então são coisas absurdas que falam e tentam desconstruir a Lava Jato. Mas, no fundo, o que tentam desconstruir é o combate à corrupção. Isso eu acho que nós não podemos deixar. Nós temos que prosseguir. Nós tivemos todo esse esforço cívico contra a corrupção, milhões de brasileiros saíram às ruas, nós não podemos deixar isso ficar para trás. É difícil recuperar isso depois.”

Moro também comentou na entrevista o fato de Jair Bolsonaro ter sancionado, em dezembro de 2019, restrições a prisões preventivas e delações premiadas.

Assista à íntegra: AQUI.

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