Bolsonaro e Mandetta: o medo e a inveja emburrecem Bolsonaro e Mandetta: o medo e a inveja emburrecem
O Antagonista

Bolsonaro e Mandetta: o medo e a inveja emburrecem

avatar
Mario Sabino
3 minutos de leitura 03.04.2020 15:10 comentários
Brasil

Bolsonaro e Mandetta: o medo e a inveja emburrecem

A esta altura, Jair Bolsonaro já deveria ter dado uma guinada como Donald Trump e reconhecido a gravidade da doença causada por um vírus sobre o qual pouco se sabe -- e que ataca o coração dos sistemas de saúde de países ricos e pobres, incapazes de dar conta de tanta gente que precisa de cuidados de UTI ao mesmo tempo...

avatar
Mario Sabino
3 minutos de leitura 03.04.2020 15:10 comentários 0
Bolsonaro e Mandetta: o medo e a inveja emburrecem
Foto: Isac Nóbrega/PR

A esta altura, Jair Bolsonaro já deveria ter dado uma guinada como Donald Trump e reconhecido a gravidade da doença causada por um vírus sobre o qual pouco se sabe — e que ataca o coração dos sistemas de saúde de países ricos e pobres, incapazes de dar conta de tanta gente que precisa de cuidados de UTI ao mesmo tempo. Ele já deveria ter reconhecido que o isolamento social tradicional é, por enquanto, a única maneira de conter o avanço da Covid-19.

Bolsonaro até ensaiou fazê-lo no seu último pronunciamento televisivo, mas volta sempre a ser o mesmo quando fala de improviso na portão do Palácio do Alvorada.

O presidente está realmente convencido de que o desastre econômico recairá politicamente sobre as suas costas — e, por isso, defende o tal isolamento vertical, uma jabuticaba condenada pela lógica, já que a maioria dos velhos, que seriam praticamente os únicos a fazer quarentena, poderá ver-se contaminada com ainda mais facilidade por parentes e cuidadores que estariam livres para circular à vontade. O desastre não recairá sobre as suas costas, Bolsonaro: a economia do mundo inteiro está indo para a cucuia e o eleitor mais idiotizado sabe que isso não é culpa de governantes que tentam fazer o possível para evitar a quebradeira geral, o desemprego e a fome. O que não pode haver é hesitação no momento de usar a caneta. Os adversários a usarão para transformá-lo em ser humano desalmado ou titubeante — o que pode ser quase tão ruim para um presidente quanto não ter alma. Já o fizeram, aliás, com o coronavoucher.

Há, no entanto, outros dois componentes na atitude de Bolsonaro.

O primeiro é o medo de viabilizar uma eventual candidatura presidencial do ministro da Saúde, em 2022. É um medo paradoxal, visto que, para cancelá-lo, seria preciso que o presidente torcesse pelo fracasso de Mandetta — o que significaria, na prática, desejar que a epidemia de Covid-19 se espalhasse acima do projetado, com perda adicional de milhares de vidas de brasileiros.

O segundo componente, mas não menos importante,  é humano, demasiado humano: a inveja em relação ao subordinado. Trata-se de um tipo de situação recorrente em quase todas as atividades humanas nas quais existem chefes inseguros e funcionários resolutos. Na política, contudo, é pecado capitalíssimo.

Sim, você já viu isso: Bolsonaro repete com Mandetta o que fez com Sergio Moro.

A esta altura, repito, Bolsonaro deveria reconhecer que errou. Ele nem precisaria fazê-lo explicitamente. Bastaria parar de falar sobre o assunto na base do improviso e permitir ao seu ministro da Saúde que continuasse a trabalhar sem ruídos.

Se não parar agora, o que recairá sobre as suas costas não será o desastre econômico inevitável, mas milhares de mortes de cidadãos. Se não parar agora, ele só inflará mais e mais a popularidade de Mandetta, como já ocorre de acordo com as pesquisas, transferindo automaticamente para si próprio eventuais responsabilidades pelo fracasso do seu subordinado, e não ganhando nenhum capital político se as providências do ministro minorarem o flagelo que se avizinha.

Alguém próximo a Bolsonaro precisa dizer a ele que o medo e a inveja podem emburrecer, ou emburrecer ainda mais, principalmente se tais sentimentos dominam um presidente da República.

Brasil

Daniel Alves "divulga cassino" em nova deepfake de anúncio

03.05.2024 11:58 2 minutos de leitura
Visualizar

Governo autoriza ação das Forças Armadas no RS

Visualizar

"Não é papel do governo" mobilizar atos, diz ministro na mira de Lula

Visualizar

Concurso TCE PA 2024: salários que podem chegar a R$ 9.1 mil

Visualizar

'Enem dos Concursos': Adiamento do CNU custaria R$ 50 milhões

Visualizar

Orangotango usa planta tratar a própria ferida na Indonésia

Visualizar

Tags relacionadas

covid-19 disputa com ministro eleições 2022 Jair Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta novo coronavírus Sergio Moro
< Notícia Anterior

Bebê de 1 mês com Covid-19 em Pernambuco está bem

03.04.2020 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Lewandowski acelera ação contra confiscos de equipamentos

03.04.2020 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Daniel Alves "divulga cassino" em nova deepfake de anúncio

Daniel Alves "divulga cassino" em nova deepfake de anúncio

03.05.2024 11:58 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Governo autoriza ação das Forças Armadas no RS

Governo autoriza ação das Forças Armadas no RS

03.05.2024 11:54 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
"Não é papel do governo" mobilizar atos, diz ministro na mira de Lula

"Não é papel do governo" mobilizar atos, diz ministro na mira de Lula

03.05.2024 11:44 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
Concurso TCE PA 2024: salários que podem chegar a R$ 9.1 mil

Concurso TCE PA 2024: salários que podem chegar a R$ 9.1 mil

03.05.2024 11:37 2 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.